É inegável o aumento do número de carros elétricos rodando em algumas grandes cidades. Eles são bem mais econômicos e requerem muito menos manutenção. Além disso, têm a vantagem de não emitirem gases de efeito estufa ou poluentes durante seu uso, caso a energia elétrica utilizada para o carregamento das baterias seja de fonte renovável.
Há quem argumente que as baterias dos carros elétricos ou híbridos utilizam componentes químicos de difícil obtenção e que provocam impactos ambientais durante o processo de lavra. Todas as atividades de mineração, é importante lembrar, especialmente aquelas conduzidas em minas a céu aberto, provocam impactos ambientais — que podem ser mitigados – e que se aplicam, indistintamente, a veículos convencionais, híbridos ou elétricos que utilizam materiais não reciclados.
Aqui um breve aparte: no Brasil, há em média mais de um celular por pessoa. Levantamento da FGV indica que temos 258 milhões de celulares em uso no país. Vamos considerar que cada aparelho, dure seis anos, em uma média subestimada. Com isso, teríamos — a cada ano — a substituição aproximadamente de 40 milhões de celulares.
Entre aqueles que criticam os carros elétricos por terem baterias que duram dez anos (esse é o prazo de garantia de alguns fabricantes, na prática elas duram mais do que isso), não vejo citarem o descarte anual de 40 milhões de celulares (e respectivas baterias). No caso dos celulares, há uma dificuldade em desmontá-los e providenciar a reciclagem dos materiais que o compõem. Para os carros elétricos, as baterias podem ser facilmente retiradas e recicladas. Adicionalmente, há a possibilidade de serem reparadas e terem sua vida útil estendida.
Uma argumentação recorrente é a dificuldade de recarga dos carros elétricos fora dos grandes centros urbanos. Isso procede para quem viaja. Mas para quem usa o veículo em ambiente exclusivamente urbano, parece não ser um problema. O número crescente de carros elétricos em grandes cidades indica isso.
No meio de campo dessa “briga” há os híbridos que tem a facilidade de utilizarem motores a combustão (com gasolina e alguns também com etanol) e motores elétricos. Os híbridos conseguem uma boa redução de consumo e também de emissões.
Hidrogênio de etanol
Correndo por fora, há uma tecnologia sendo desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor Julio Meneghini, que atua como diretor científico do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), sediado na Escola Politécnica.
O projeto já está produzindo hidrogênio a partir do etanol e movimenta veículos comerciais cedidos por duas montadoras. Há, também, um ônibus articulado movido a hidrogênio. A proposta é que, ainda em 2025, cinco ônibus articulados circulem pela Cidade Universitária da USP para atender a população local.
Em termos práticos, um carro é abastecido com 6 kg de hidrogênio e consegue uma autonomia superior a 600 km. A reação é simples: o hidrogênio é convertido em água (que sai pelo escapamento) e libera energia que movimenta um motor elétrico.
Para o hidrogênio produzido a partir do etanol, há liberação de CO2 de origem biogênica (o mesmo CO2 que foi capturado pelo processo de fotossíntese durante o plantio da cana de açúcar ou milho). Portanto, a reação devolve à atmosfera o que já estava lá e será recapturado – pela mesma fotossíntese – durante o plantio da próxima safra. Em resumo, é um CO2 que não se acumula na atmosfera.
Há duas possibilidades de isso ocorrer: os veículos podem ser abastecidos diretamente por hidrogênio obtido a partir do etanol ou serem abastecidos por etanol e a conversão do hidrogênio ser feita diretamente dentro de cada carro, caminhão ou ônibus.
Qual a vantagem?
O hidrogênio pode ser obtido de diferentes formas. O mais comum é a hidrolise da água, em que átomos de oxigênio de hidrogênio são separados. Isso exige muita energia. Para que esse hidrogênio seja considerado verde – ou ambientalmente sustentável – a energia elétrica utilizada precisa ser obtida a partir de uma fonte limpa e renovável (como a energia eólica ou solar).
As regiões nordeste e sul se destacam na produção de energia elétrica por fonte eólica. O problema seria a logística de transporte do hidrogênio para outras regiões. Como a produção de cana de açúcar ocorre em diversas áreas, a conversão do etanol em hidrogênio simplificaria a logística, especialmente se esse processo venha a ocorrer dentro dos veículos. Nesse caso, bastaria abastecer o veículo – em um posto convencional – com etanol e tudo estaria resolvido.
Acredito quem em dez anos essa tecnologia estará comercialmente disponível e poderemos ver, com frequência, veículos movidos a hidrogênio sendo abastecidos com etanol produzido no Brasil.
Para quem tiver a curiosidade de andar em um veículo desses, no segundo semestre deste ano será possível utilizar ônibus a hidrogênio em linhas que atendem a Cidade Universitária no bairro do Butantã, em São Paulo. Um desses ônibus também deverá circular na COP30 em Belém, no final deste ano.
Fonte:
Pedro Côrtes
CNN