Inquieta e com uma vontade genuína de transformar o mundo, Yasmine Sterea deixou uma carreira de mais de uma década na moda para dar vida a um movimento global de libertação de meninas e mulheres.
Fundada em 2018, a Free Free nasceu de um projeto pessoal da empreendedora e se transformou em um ecossistema hoje avaliado em 70 milhões de dólares, presente em quatro continentes -- e em plena expansão.
"A verdadeira liberdade está em sermos autênticas, sem nos prender ao que os outros pensam sobre nós. Surge quando assumimos a liderança das nossas vidas e buscamos um propósito mais profundo", disse em entrevista à EXAME.
O que ela não imaginava é que uma dor profunda seria o combustível para o nascimento do negócio social. Quando tinha apenas 21 anos, sua mãe tirou a própria vida e o trauma a fez refletir sobre muitas questões.
"Eu comecei a entender que não era apenas sobre saúde mental, mas sim sobre um silenciamento histórico social e cultural", revela Yasmine, com a sensibilidade de quem transformou a tragédia pessoal em um propósito coletivo. Em seguida, ela engravidou de uma menina e foi tomada por outro medo: que a história se repetisse.
Foi aí que surgiu o desejo de criar um mundo melhor e mais livre para sua filha, sem os mesmos problemas estruturais e silenciamentos que ela viu sua mãe e outras mulheres passarem ao longo da vida.
Após 11 anos como diretora da Vogue Brasil e com experiências internacionais em Nova York, Londres e Portugal, Yasmine canalizou sua formação em justiça social na Universidade de Harvard e sua expertise no mundo da moda para desenvolver a Free Free, lançada quando morava em Londres.
Uma metodologia para a liberdade
O diferencial da Free Free está em sua abordagem holística, contou a empreendedora. "Nossa metodologia ensina as pessoas a se libertarem de uma visão linear, entrando num estado de consciência mais amplo para resolver problemas de forma mais criativa", explicou. Para isso, envolve uma combinação de técnicas de neurociência, meditação e mindfulness.
A atuação do negócio foca em três pilares: um braço focado em parcerias B2B, uma fundação voltada a população mais vulnerável e um grupo de aproximadamente 100 membros no mundo. Sua missão é: "se liberte por dentro e liberte o mundo", visando ajudar mulheres a conquistarem a liberdade física, emocional e financeira.
"Quem se torna membro aprende a aumentar a consciência e criatividade usando os seus próprios talentos. Além disso, fornecemos apoio para que possam desenvolver seus próprios projetos de impacto", disse.
Expansão
Em novembro de 2024, a Free Free celebrou um novo marco com a fixação de sua sede global em Londres, mas mantendo a base nacional em São Paulo. Além disso, se posicionou oficialmente como uma "femtech", com o lançamento de um aplicativo gratuito.
"Queremos atingir ainda mais regiões do mundo e atrair novas pessoas para se tornarem membros. Com a plataforma, unimos tecnologia e soluções inovadoras para o universo feminino", destacou Yasmine.
Mas a expansão internacional começou ainda antes, já em 2022, e trouxe resultados significativos: a presença em quatro continentes. "Temos atividades na África, nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Brasil e também estamos olhando para o México e outros países da Europa", complementou ela.
Projetos de impacto
Entre os projetos em destaque, estão o "Free My Period", desenvolvido por membros de Harvard visando combater a pobreza menstrual e gerar autonomia financeira. "O modelo de negócio envolve mulheres aprendendo a fazer a calcinha menstrual e podendo vender um produto sustentável que as ajuda a se libertar financeiramente", explicou. Inicialmente na África, em Gâmbia, o plano também é levar a ação para o Brasil.
Outra iniciativa é a "Back to Nature", que traz a necessidade de retornar à natureza e equilibrar os avanços tecnológicos com a conexão com o meio ambiente. "Conectar natureza e o feminino é essencial para o equilíbrio e o bem-estar", disse.
Segundo ela, as questões sociais também se relacionam diretamente com a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) no Brasil, visto que as mulheres são justamente as que mais sofrem com a crise climática.
Nos últimos seis anos, a organização formou mais de 80 parcerias e impactou diretamente mais de 50 mil pessoas. Aproveitando sua rede de contatos, Yasmine fechou parcerias com o Departamento de Justiça e o Ministério Público no Brasil, além de marcas como Gucci, Google, Pepsico, L'Oréal e, recentemente, a Unilever.
"Nosso propósito é continuar libertando mulheres de opressões sociais, violências, e criar um mundo mais igualitário e seguro. Ela não apenas transforma sua própria vida, mas também se torna agente de mudança na vida de outras", concluiu a empreendedora.
Fonte:
Sofia Schuck
Repórter de ESG
Exame