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Sustentabilidade ou lucro
Sustentabilidade ou lucro

Mais de três quartos dos investidores (78%) acredita que as empresas devem priorizar os investimentos que abordem questões da agenda ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) relevantes para seus negócios, mesmo que isso comprometa os lucros no curto prazo. Ao menos foi o que gestores e acionistas disseram à pesquisa “Global Reporting and Institutional Investor Survey”, realizada pela consultoria global EY.

Em contraste, apenas 55% dos diretores e líderes financeiros nas companhias acreditam que os planos de negócios devem abordar questões ESG quando o resultado é uma redução de curto prazo no desempenho financeiro e nos lucros.

A dissonância é ainda maior considerando o percentual que acompanha a agenda ESG nas empresas e a usa como critério nas decisões de investimentos. De acordo com o estudo, quase todos (99%) os investidores no mundo estão atentos aos relatórios, divulgações e posicionamentos executivos relativos à sustentabilidade, responsabilidade social e governança no mercado. 

A pesquisa global da EY ouviu mais 1.040 líderes financeiros nas empresas e 320 investidores no mundo todo.

Nesse cenário, temas por tanto tempo relegados ao segundo plano, hoje, são tidos como pontos decisivos na orientação de investir ou não em determinado ativo.

Pode soar como discurso superficial ou de propaganda, mas defensores da agenda ESG no mercado financeiro são enfáticos: são questões cruciais na avaliação de qualidade e de riscos dos investimentos. Não se trata de ideologia. É estratégia de longo prazo.

O sócio líder de serviços na área de mudanças climáticas e sustentabilidade da EY para o Brasil, Leonardo Dutra, corrobora essa visão. Para ele, o descompasso encontrado pelo estudo diz respeito à maturidade do mercado.

“Investir em ESG, além de mitigar riscos, proporciona uma proteção dos negócios ao longo do tempo e nos mercados com mais maturidade esse benefício a longo prazo é mais percebido”, reforça. O executivo ainda completa que “a mentalidade em desarmonia desses dois importantes públicos pode impactar as organizações, além de prejudicar o bom funcionamento do mercado de capitais e os esforços coletivos contra as mudanças climáticas.”

De onde vem a desconexão?

Na pesquisa, a desconexão entre investidores e executivos das áreas financeiras acontece porque, enquanto as empresas ainda estão muito focadas no que veem como pressão de curto prazo, os investidores alegam não receber informações robustas sobre a estratégia de crescimento de longo prazo.

A maioria (53%) das grandes empresas ouvidas na pesquisa - com receitas superiores a US$ 10 bilhões por ano - diz que “enfrenta pressões de ganhos de curto prazo por parte dos investidores, o que impede investimentos de longo prazo em sustentabilidade”. Já 80% dos investidores entrevistados dizem que “muitas empresas não conseguem articular adequadamente a justificativa para investimentos de longo prazo em sustentabilidade, o que pode dificultar a avaliação do investimento.”

Esta é a equação que cerca os investimentos ESG: crescimento de longo prazo ou resultado de curto prazo? O especialista Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para a América Latina Sul e diretor de sustentabilidade da EY Brasil, admite ser uma questão de difícil resposta, mas explica que se pensarmos que ESG garante competitividade de médio e longo prazo, é fundamental ter conselhos de administração capacitados com esta matéria e que eles sejam agentes para bancar as estratégias, mostrando ao mercado os dados mais precisos e benefícios do investimento.

Embora haja uma parte que invista realmente pensando na sustentabilidade, a maioria dos investidores tem uma visão pragmática de que ESG é um meio para alcançar um fim: um retorno melhor ao longo do tempo. 

"Uma parte relevante de quem compra produtos financeiros lastreado em ESG crê na promoção do desenvolvimento sustentável, mas, do ponto vista de investidor, o que pesa é [quanto esse investimento se reflete em] melhoria do retorno do investimento ”, diz Assumpção.

Tanto que fatores como a reputação de uma empresa com bons fundamentos ESG, o aumento da demanda entre clientes e a preocupação com a visão de negócios no longo prazo são os principais motivos apontados pelos investidores para seguirem o tema.

Nas Américas, 43% dos gestores alegam que empresas com metas ESG mais arrojadas têm retorno potencial mais elevado no longo prazo. Já na região da Ásia Pacífico, 42% dos investidores se preocupam em construir uma reputação como líderes em alocação em ativos ligados à agenda. Por fim, na Europa, o mercado mais avançado nessas discussões hoje, 59% dos investidores estão mesmo orientados a construir um portfólio de produtos com alta performance em índices ESG no longo prazo.

Mas não ajuda o fato de que 76% dos investidores acreditam que as empresas são altamente seletivas na escolha das informações sobre ESG que fornecem, despertando assim questionamentos no mercado financeiro sobre um possível greenwashing (uma postura rasa e superficial, que visa apenas vender a empresa como sustentável, sem nenhum fundamental real e de impacto sobre a questão).

Há uma lacuna considerável para ser fechada pelas empresas.

Fonte:

Beatriz Pacheco
Valor Investe

 

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