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O universo corporativo está muito longe do ideal por trás do ESG
O universo corporativo está muito longe do ideal por trás do ESG

Quais empresas têm mais chance de ter sucesso: as que visam o lucro a qualquer custo ou aquelas que atuam de maneira consequente, preservando sua reputação e, por tabela, sua licença social para operar?

Esse dilema está por trás do conceito de ESG (do inglês Ambiental, Social e Governança). O termo foi usado pela primeira vez em 2004 em uma publicação conjunta do Pacto Global da ONU e do Banco Mundial. Na época, o então secretário-geral da ONU Kofi Annan quis fazer uma provocação a 50 líderes de grandes instituições financeiras: como incluir implicações ambientais, sociais e de governança no mercado de capitais? 

A iniciativa deu origem à célebre publicação “Quem se importa vence”, redigida pelo braço do Banco Mundial dedicado ao setor financeiro corporativo global. Desde então, a sigla ESG foi tomando o espaço de outros termos que já foram moda no mundo empresarial, como a “responsabilidade social”, em alta nos anos 90, e a “sustentabilidade”, mais focada no impacto ambiental e que foi muito empregada no começo deste século. 

Além de incorporar a responsabilidade social e a preocupação com o ambiente, o ESG destaca a governança, isto é, a política pública da instituição. O senso comum entende que política pública se limita ao setor público, mas as instituições privadas também têm impacto direto sobre a vida pública, e por isso seu processo de tomada de decisão precisa ser transparente e obedecer tanto às normas internas, como às legislações pertinentes nacionais e internacionais.  

Em outras palavras, ESG é um termo para definir negócios que são justos do ponto de vista socioambiental e político.  

Embora o termo esteja em voga, o universo corporativo está muito longe do ideal por trás do ESG. Alguns escândalos empresariais no Brasil são um exemplo disso, com algumas das maiores empresas do país envolvidas em crimes ambientais de enormes proporções, relações trabalhistas injustas e gestão fraudulenta de investimentos, além de corrupção. E quase todas as companhias flagradas recentemente em situações como estas produzem regularmente relatórios sobre seus indicadores ESG – quase sempre maquiados para parecerem melhores do que são. 

O caso das empresas de combustíveis fósseis

Outro exemplo são as empresas de combustíveis fósseis. Em 2022, muitas delas, incluindo Shell, BP e Exxonmobil, tiveram os maiores lucros de suas histórias em meio à crise mais generalizada de preços de combustíveis e eletricidade já vista. Elas fizeram da guerra russa uma oportunidade de aumentar seus ganhos sobre consumidores e governos de todo o mundo. De quebra, usarão esses resultados positivos para atrasar ainda mais a transição para energias renováveis que pode salvar o planeta de um colapso climático. 

Há dois aspectos que tornam a atuação das empresas de combustíveis fósseis ainda mais preocupante. O primeiro é que embora essas empresas sejam as maiores responsáveis isoladas pelo aquecimento da atmosfera que está alterando o Clima da Terra – talvez, de maneira irreversível –, elas não mostram sinais de que pretendem fazer algo a respeito. 

Por exemplo, um relatório publicado no mês passado mostrou que a ExxonMobil sabia com precisão desde a década de 1970 que as emissões dos combustíveis fósseis levariam o clima do planeta a um colapso climático no século 21. 

Após a divulgação desse relatório, António Guterres, secretário-geral da ONU, chamou os executivos do setor de “grandes mentirosos” durante o Fórum Econômico de Davos. Ele cobrou uma punição contra eles semelhante à aplicada nos anos 1990 aos empresários do tabaco, nos EUA, que atuaram de maneira a enganar governos e consumidores por décadas sobre o real impacto de seus produtos para a saúde. 

O segundo aspecto preocupante é que todas as empresas de combustíveis fósseis alegam ter indicadores ESG. 

Contradições como esta estão esvaziando o sentido do termo, e isso é ótimo para empresas que não se importam com as consequências de seus negócios para a vida das pessoas. Se as companhias que mentem sobre seus compromissos públicos não forem punidas, não há incentivo para aquelas que atuam de forma responsável. Somente uma sociedade informada e vigilante pode fazer com que a frase “quem se importa vence” seja verdade no mundo dos negócios.  

Fonte:

Climatempo

 

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